Crônica renal sim, crônica triste não!

Como continuar linda, lúcida e levemente debochada enquanto faz hemodiálise. De forma leve, quero trazer para vocês como é possível ser feliz, seguir com a vida tranquilamente e ser “normal”, mesmo fazendo hemodiálise três vezes por semana. Esse texto é para ser lido com um cafezinho, porque ele foi feito para aquecer e tranquilizar seu coração — seja você quem está passando por isso ou quem convive com alguém nessa situação.

Antes de tudo, quero adiantar: cada experiência é única. Cada pessoa sabe pelo que está passando, e cada corpo responde de maneira diferente. Desde que me entendo por gente, sou uma pessoa com doença renal crônica. Não sei como é não ser. Minha história completa eu conto em outro post. Sempre fui muito sonhadora, sensível e forte. Por muito tempo, não deixava transparecer nenhuma fraqueza — não queria que me vissem como uma pessoa doente. Já que fisicamente não parece, mentalmente eu também não deixaria parecer. Essa era minha regra de ouro.

Neste exato instante, estou sentada em uma poltrona, em meio à terapia, e está passando um cara lindo na minha frente. Vida real, né? Algum tempo atrás, enquanto estava transplantada, jurei que, se perdesse meu rim, acabaria com minha vida. De fato, um ano depois eu perdi o rim. E já fazem três anos desde esse episódio. Hoje eu sou feliz. É engraçado dizer isso, mas é verdade.Sou grata por essa nova chance. Não estaria aqui escrevendo, nem vivendo minha vida ao máximo, se não fosse a diálise. Ironicamente, esse é com certeza o momento mais lúcido da minha vida. Encontrei, na diálise, amigos e suporte para passar por essa fase. Quem sabe se terei outro rim algum dia? Não sei. Mas aprendi a organizar minha vida ao redor dessas máquinas que me mantêm viva.

Limites. Isso é algo que eu detesto. Mas, a partir da aceitação e da organização, consegui não só conciliar minha vida, mas também diminuir os limites que me cercam. Saio com amigas pra curtir a noite, estudo, trabalho... Moro sozinha e tenho dois dogs (a Liz e o Kiki). Lógico, rede de apoio é tudo. E como disse no início do texto: cada condição tem suas singularidades.

Só quero deixar claro que sim — você pode viver, ser feliz e continuar seus projetos e trabalhos.Só precisa de alguns ajustes. E, em alguns casos, algumas mudanças. Mas você não precisa perder sua essência nem seu brilho por causa de uma doença. Eu sei que você vai encontrar uma forma de enquadrar tudo certinho e viver entre máquinas, agulhas, projetos e uma playlist feliz. Queria estar tomando um café numa daquelas cafeterias de Paris... Mas estou aqui, na poltrona da diálise. Tenho anseios, vontades e sonhos que talvez nunca se realizem. Experiências que, se eu não dependesse dessas máquinas, talvez vivesse. E, talvez, você vá sentir isso diversas vezes também.

Mas aceitar que essa é a sua vida agora ajuda a minimizar esse sentimento e a focar nas coisas maravilhosas que você ainda pode viver, mesmo com tanta restrição. Foque no lado bom da vida. Faça valer a pena cada segundo dessa segunda chance que você tem em mãos. Lembre-se: não é o fim — pode ser o recomeço de algo incrível.